Em um contexto em que o Plano Real completa 30 anos e a economia brasileira apresenta uma normalidade relativa, observa-se um fenômeno intrigante no comportamento financeiro da população: as apostas online, também conhecidas como ‘bets’, têm conquistado uma parcela significativa dos brasileiros, superando os investimentos mais tradicionais. De acordo com uma pesquisa realizada pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), 14% dos brasileiros acima de 16 anos fizeram ao menos uma aposta online em 2023. Este dado surpreendente representa cerca de 22 milhões de pessoas, um volume sete vezes superior ao dos que optaram por investir em ações, Tesouro Direto ou previdência privada, cujos percentuais não excederam 2% da população em cada modalidade de investimento.
Nós sempre analisamos o perfil do apostador Brasileiro aqui no Sorteador Apostas. E, recentemente publicamos um artigo que demonstra que os apostadores não fazem muita pesquisa ou têm a noção de checar se uma bet é confiável. Logo, essa escalada e essa mudança de “perfil de investidor” são preocupante. Isso se torna ainda mais terrível, devido a falta de educação financeira tão comum em nosso país, onde, conforme noticiamos, o dinheiro para as apostas tem saído da poupança e/ou dos gastos mensais dos brasileiros – e até do bolsa família.
A Poupança Continua no Topo
A poupança, por outro lado, manteve sua posição como a aplicação financeira mais popular do país, sendo a única a ultrapassar o índice de adesão das bets, com 25% dos brasileiros afirmando ter investido nessa modalidade.
Investimentos Convencionais em Baixa
O Raio-X do Investidor Brasileiro, divulgado anualmente pela ANBIMA, aponta que, embora uma minoria significativa da população economize e invista, a preferência majoritária ainda é pela poupança, enquanto ativos mais sofisticados e com potencial de retorno mais elevado, como ações, títulos públicos, fundos de investimento e previdência privada, atraem apenas uma pequena fração dos brasileiros.
Bets: Entretenimento ou Investimento?
A pesquisa da ANBIMA deste ano trouxe uma novidade ao analisar a relação dos brasileiros com as bets. O estudo revelou que 22% dos apostadores consideram as apostas online como uma forma de investimento financeiro, apesar de essa percepção estar distante da realidade financeira convencional. Notavelmente, entre os apostadores com 63 anos ou mais, 38% enxergam as bets como uma forma de investimento, mesmo representando somente 4% do total de apostadores.
As principais motivações para se engajar nas bets incluem a busca por ganhos financeiros rápidos em momentos de necessidade (40%) e a possibilidade de obter altos retornos (39%). A diversão e a emoção do jogo também são fatores motivacionais importantes, mencionados por 26% e 25% dos apostadores, respectivamente.
Onde os Brasileiros Investem de Fato
Além das apostas online, a sétima edição do Raio-X do Investidor da ANBIMA mostrou que 37% dos brasileiros investiram em produtos financeiros em 2023. Esse índice se manteve praticamente estável em comparação com os 36% de 2022, mas apresentou um aumento em relação aos 31% de 2021. Nas classes A e B, com renda mais alta, o percentual de investidores foi de 55%, uma leve redução em relação ao ano anterior. Na classe C, 38% dos brasileiros investiram, enquanto nas classes D e E, o índice foi de 20%.
Entre os investidores, a caderneta de poupança foi a escolha de 68% em 2023, seguida por títulos privados (13%) e fundos de investimento (12%). As criptomoedas também se destacaram, com 10% dos investidores optando por esse tipo de ativo.
Comparativo de Investimentos em 2023 X 2022
Compilamos parte da pesquisa da ANBIMA em uma lista para melhor entendimento. Na lista – que está em ordem congruente à concentração de investimentos por tipo – separamos os dados pelo percentual total da população (de acordo com o Senso de 2022), que investiu em 2023 em comparação com esta mesma população em 2022. Em seguida separamos apenas a concentração por cada tipo de investimento em comparação com o número total de investidores no período (2023) e do período de 2022.
Para facilitar a compreensão, todos os dados relativos a 2022 estão entre parênteses logo após os dados de 2023.
Também deixamos a variação percentual comparativa entre 2022 para 2023, se foi positiva ou negativa, em qual valor percentual ou se não houve variação.
- Caderneta de poupança: 25% da população em 2023 (26% em 2022) = -1%, 68% dos investidores em 2023 (72% em 2022) = -4%.
- Títulos privados: 5% da população em 2023 (4% em 2022) = +1%, 13% dos investidores em 2023 (12% em 2022) = +1%.
- Fundos de investimento: 4% da população em 2023 (4% em 2022) = sem variação, 12% dos investidores em 2023 (12% em 2022) = sem variação.
- Compra e venda de imóveis: 4% da população em 2023 (4% em 2022) = sem variação, 4% dos investidores em 2023 (3% em 2022) = +1%.
- Moedas digitais: 4% da população em 2023 (3% em 2022) = +1%, 10% dos investidores em 2023 (8% em 2022) = +2%.
- Em casa/no colchão: 3% da população em 2023 (3% em 2022) = sem variação, 2% dos investidores em 2023 (2% em 2022) = sem variação.
- Ações na bolsa de valores: 2% da população em 2023 (2% em 2022) = sem variação, 7% dos investidores em 2023 (7% em 2022) = sem variação.
- Plano de previdência privada: 2% da população em 2023 (2% em 2022) = sem variação, 7% dos investidores em 2023 (6% em 2022) = +1%.
- Títulos públicos via Tesouro Direto: 2% da população em 2023 (1% em 2022) = +1%, 5% dos investidores em 2023 (4% em 2022) = +1%.
- Moedas estrangeiras: 1% da população em 2023 (1% em 2022) = sem variação, 3% dos investidores em 2023 (3% em 2022) = sem variação.
- Ouro: 1% da população em 2023 (1% em 2022) = sem variação, 1% dos investidores em 2023 (0% em 2022) = +1%.
- Não conhece/não utiliza: 57% da população em 2023 (58% em 2022) = -1%.
Metodologia da Pesquisa
A pesquisa Raio-X do Investidor Brasileiro foi realizada pelo Datafolha e entrevistou 5.814 pessoas de todas as regiões do Brasil, entre os dias 6 e 24 de novembro de 2023. O público entrevistado incluiu homens e mulheres a partir de 16 anos, pertencentes às classes A/B, C e D/E, representando um universo estimado de 160,1 milhões de habitantes, conforme o Censo de 2022. A pesquisa possui um nível de confiança de 95% e uma margem de erro de um ponto percentual para mais ou para menos.